quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os Padrões das Grandes Seleções na Copa das Confederações 2013: o Passe (Parte 1)


Padrões de comportamento de jogo que as equipes de altíssimo nível manifestaram um ano antes da Copa do Mundo

“As coincidências são lógicas”
(Johan Cruyff in Os Números do Jogo, 2013, p. 41)

A Copa das Confederações 2013 teve em sua fase final, os últimos três campeões mundiais e o atual campeão da América do Sul. Pelo formato dos grupos e pelos resultados, esses quatro campeões mundiais acabaram por se enfrentar exatamente uma vez entre jogos de primeira fase, semifinais, disputa de terceiro e quarto lugar e final.
Os números apresentados nesse artigo foram retirados do site oficial da FIFA e levaram em consideração apenas as quatro equipes semifinalistas, devido à equidade de jogos (todas jogaram cinco jogos na competição) e o nível de dificuldade que enfrentaram. Deve considerar que alguns jogos da primeira fase tiveram diferenças de placar fora da curva de normalidade (como o jogo da Espanha contra o Taiti, por exemplo), porém, mesmo assim alguns padrões se mantiveram e se equilibraram, como é esperado dentro de uma competição.

Os números nas figuras a seguir estão divididos de acordo com a fase da competição (Primeira Fase com três jogos, Segunda Fase com dois jogos sendo semifinal e final ou disputa do terceiro e quarto lugares). E também em valores absolutos (número de passes totais) e média (número total dividido pelo número de jogos respectivo).

Figura 1 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Volume de Passes)

Pela diferença no volume total de passes considerando-se os cinco jogos, observa-se que essa é uma variável com interferência do tipo de jogo da equipe e da proposta do adversário também.
Recuperação rápida com sequências longas de passes curtos prioritariamente como a da Espanha geram uma diferença de aproximadamente 280 passes por jogo em relação ao tipo jogo do Uruguai de sequências mais verticais e alternância nas linhas de marcação não priorizando o tempo curto na recuperação da bola.

Com exceção da Itália, as outras três seleções mantiveram um padrão muito próximo entre a primeira e segunda fases. Contra o Brasil na primeira fase, a Itália enfrentou uma seleção que buscava a recuperação rápida da bola, em compensação nos jogos de semifinal e disputa terceiro e quarto lugares a característica dos jogos foi diferente. Adotou um jogo de busca constante pela bola contra a Espanha e contra o Uruguai se deparou com uma seleção que ofereceu a bola ao adversário para ter o contra-ataque.

Figura 2 – Comparação entre a Primeira Fase e o Resultado Final (Volume de Passes)

Comparando a média da primeira fase com o resultado médio final, as diferenças obviamente são menores ainda, mostrando que mesmo com a oscilação em função do nível dos adversários as equipes tendem a manifestar seu padrão.
Nas equipes com auto referência em seu modelo de jogo mais consistente, os ajustes específicos que os treinadores realizam para os confrontos, também não são suficientes para interferir de maneira agressiva em alguns padrões (como o volume de passes, nesse caso) que aparentemente são produtos dos padrões individuais (jogadores), interação entre jogadores (padrões próprios emergem em cada relação), ambiente, circunstância momentânea da equipe, fatores culturais, etc.
Contudo, uma equipe pode ter como auto referência a flexibilização do seu modelo de jogo para potencializar seu jogar frente aos problemas pontuais que cada adversário vai propor. São duas formas diferentes de abordar o jogo, com suas implicações, vantagens e desvantagens nas possibilidades de vitória.

Figura 3 – Comparação entre a Primeira e Segunda Fase (Aproveitamento de Passes)

Como pode ser observado na figura acima, o aproveitamento de passes (passes certos em relação ao total de passes) possui um padrão mais estável ainda se compararmos com o volume total. Novamente a seleção italiana foi aquela que oscilou mais dentro de seu próprio padrão, enquanto as outras tiveram menores variações. Contudo, a Itália foi a única que melhorou seu aproveitamento de passes na segunda fase. Todas as outras tiveram decréscimo de rendimento em passes certos.

Figura 4 – Comparação entre a Primeira Fase e o Resultado Final (Aproveitamento de Passes)

Novamente, houve uma diminuição na diferença em pontos percentuais, trazendo interações sistêmicas das seleções nesse quesito para índices mais estáveis, mais próximos dos atratores que determinam sua configuração.
Com os dados apresentados nas quatro figuras, pode-se identificar que as seleções apresentam padrões em relação à ação técnica (tática, mental, física e cultural, por quê não?) do passe. O passe é a ação com bola que os jogadores (e consequentemente as equipes) mais realizam no jogo. Passar a bola não é o objetivo do jogo, é meio para atingir o objetivo, que é marcar mais gols que o adversário. Essa percepção corrobora com a constatação de Anderson e Sally (Os Números dos Jogo, p. 147) de que o volume de passes é uma decisão tática, não tendo relação direta com vitórias ou derrotas. Portanto, o volume de passes e o seu aproveitamento são úteis para o entendimento da lógica interna (lógica interna ou padrão, padrão ou lógica interna?) das equipes na busca pelo cumprimento da lógica do jogo (Leitão, 2009). Algumas buscam o gol com mais passes curtos, outras com passes mais longos, sequências de passes mais longas, mais passes em direção ao gol de ataque, maior seleção de jogadas, etc.

O objetivo dos números apresentados neste artigo é buscar o entendimento do caminho mais efetivo que cada seleção encontrou para chegar ao gol, aquele em que com a otimização da energia complexa (energia física, tática, técnica e mental) o objetivo é cumprido (chegar aos gols e consequentemente às vitórias).

Referências Bibliográficas

Anderson, C. e Sally, D. Os números do jogo: por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução: André Fontenelle. São Paulo, 2013.

FIFA. Disponível em: http://pt.fifa.com/confederationscup/statistics/index.htm. Acesso em: 05/07/2013.

Leitão, R.A.A. O jogo de futebol: investigação de sua estrutura, de seus modelos e da inteligência de jogo, do ponto de vista da complexidade. Tese de Doutorado em Educação Física. Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 2009. Campinas. 2009.


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